domingo, 5 de abril de 2015

Arcadismo no Brasil - caracterísitcas - principais escritores e obras

Movimento literário De (1768 a 1808) que se desenvolve na poesia no século XVIII. De acordo com os princípios neoclássicos. Numa época marcada pelo racionalismo e pela visão científica do mundo inaugurada pelo iluminismo, o arcadismo defende uma literatura mais simples, objetiva, descritiva e espontânea, que se opõe à emoção, à religiosidade e ao exagero do Barroco, considerado confuso e rebuscado. A ideia de que toda beleza está na natureza e a idealização da vida no campo e do homem simples fazem do arcadismo um movimento. Apesar do nostálgico diante da Revolução Industrial e da urbanização que começaram a acontecer em parte da Europa.

O nome do movimento deve-se a um grupo que em 1690 funda em Roma uma sociedade literária batizada de Arcádia e chama seus integrantes de pastores. Na mitologia grega, Arcádia é uma região onde poetas e pastores vivem de amor e de poesia. Em 1756 surge a Arcádia Lusitana, em Portugal, inspirada na de Roma. O autor de maior destaque Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805).

Principais características do Arcadismo

Os poemas árcades exibem linguagem clara e seguem métricas definidas. São comuns estruturas populares como os rondós, os madrigais e as redondilhas maior e menor. Na temática predominam os temas bucólicos (vida no campo) e amorosos, como a idealização da mulher amada.

Arcadismo no Brasil 

Com o Arcadismo se desenvolve no país a primeira produção literária adaptada à realidade brasileira.A literatura começa a afastar-se  dos modelos portugueses, ao descrever as paisagens locais e criticar a situação política do país. Surgem vários autores em Vila Rica, Minas Gerais, capital cultural e centro da riqueza na época.

A transição do Barroco para o Arcadismo no país se dá com a publicação, em 1768, do livro Obras Poéticas (1768), de Claudio Manuel da Costa (1729-1789). Entre os árcades destacam-se, ainda, o português que vive no Brasil Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), autor de Marília de Dirceu e Cartas Chilenas; Basílio da Gama (1741-1795), autor de Uraguai (poema épico). Santa Rita Durão (1722-1784), autor do poema épico Caramuru; MANUEL INÁCIO DA [SILVA ALVARENGA] (1749-1814), autor de "O Desertor das Letras" (1774) e Glaura. Apesar do engajamento pessoal, a produção literária desses autores não está a serviço da política. O gênero predomina até o início do século XIX, quando surge o Romantismo.



sábado, 25 de maio de 2013

Monteiro Lobato vida e obras

Nasceu em Taubaté, São Paulo, no dia 18 de abril de 1882. Em homenagem ao seu nascimento, neste dia comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil.
Era filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Augusto Lobato. Seu nome verdadeiro era José Renato Monteiro Lobato, mas em 1893 o autor preferiu adotar o nome do pai por desejar usar uma bengala do pai que continha no punho as iniciais JBML.

Juca, apelido que Lobato recebeu na infância, brincava em companhia de suas irmãs com legumes e sabugos de milho que eram transformados em bonecos e animais, conforme costume da época. Uma forte influência de sua própria experiência reside na criação do personagem Visconde de Sabugosa.

Ainda na infância, Juca descobriu seu gosto pelos livros na vasta biblioteca de seu avô. Os seus prediletos tratavam de viagens e aventuras. Ele leu tudo que lá existia, mas desde esta época incomodava a ele o fato de não existir uma literatura infantil tipicamente brasileira.

Um fato interessante aconteceu ao então jovem Juca, no ano de 1895: ele foi reprovado em uma prova oral de Português. O ano seguinte foi de total estudo, mergulhado nos livros. Notável é o interesse de Lobato escritor no que diz respeito à Língua Portuguesa, presente em alguns de seus títulos. É na adolescência que começa a escrever para jornaizinhos escolares e descobre seu gosto pelo desenho.

Aos 16 anos perde o pai e aos 17 a mãe. A partir de então, sua tutela fica a encargo do avô materno, o Visconde de Tremembé. Formou-se em Direito pela faculdade de seu estado, por vontade do avô, porque preferia ter cursado a Escola de Belas-Artes. Esse gosto pelas artes resultou em várias caricaturas e desenhos que ele enviava para jornais e revistas.

Seus primeiros estudos foram feitos em Taubaté, transferiu-se para São Paulo matriculando-se na Faculdade de Direito pela qual se bacharelou (1904).

Em 1907, 3 anos após sua formatura, exerceu a promotoria em Areias, cidadezinha do interior. Retirou-se depois para uma fazenda em Buquira que herdou do avô, falecido em 1911. Este município, onde surgiu um Lobato fazendeiro, recebeu seu nome em sua homenagem.

Casou-se com Maria Pureza da Natividade, em 28 de março de 1908. Do casamento vieram os quatro filhos: Edgar, Guilherme, Marta e Rute.

Comprou a Revista do Brasil (1917), da qual já era colunista e nela editou sua primeira coletânea de contos, Urupês (1917), criando o personagem Jeca Tatu. 

O êxito fulminante desse livro de contos colocou-o numa posição de vanguarda. Neste mesmo ano, vendeu a fazenda e transferiu-se para São Paulo, onde inaugurou a primeira editora nacional: Monteiro Lobato & Cia. Até então, os livros que circulavam no Brasil eram publicados em Portugal. Por isso, as iniciativas de Lobato deram à indústria brasileira do livro um impulso decisivo para sua expansão.

Em 1926, foi nomeado adido comercial da embaixada brasileira nos Estados Unidos, de onde trouxe um notável livro de impressões: América. Usou, assim, suas principais armas em prol do nacionalismo no tocante à exploração de ferro e petróleo no Brasil: os ideais e os livros.

Preocupado com o desenvolvimento econômico do país, chegou a fundar diversas companhias para a exploração do petróleo nacional.. O fracasso dessa iniciativa deu-lhe assunto para um artigo: O Escândalo do Petróleo. Já sob o Estado Novo, sua persistência em abordar esse tema como patriota autêntico valeu-lhe três meses de prisão.

No público infantil, Lobato escritor reencontra as esperanças no Brasil. Escrever para crianças era sua alegria, por isso adorava receber as cartinhas que seu pequenino público escrevia constantemente. Achava que o futuro deveria ser mudado através da criançada, para quem dava um tratamento especial, sem ser infantilizado. O resultado foi sensacional, conseguindo transportar até hoje muitas crianças e adultos para o maravilhoso mundo do Sítio do Picapau Amarelo.

Morreu na madrugada de 5 de julho (1948) na capital de São Paulo, de um acidente vascular, e sob forte comoção nacional, seu corpo é velado na Biblioteca Municipal e o sepultamento realizado no Cemitério da Consolação

A obra lobatiana é composta por 30 volumes. Tem um lugar indisputável na literatura brasileira como o Andersen brasileiro, autor dos primeiros livros brasileiros para crianças, e também como revelador de Jeca Tatu, o homem do interior brasileiro.

Apesar de ter sido, em muitos pontos, o precursor do Modernismo, a ele nunca aderiu. Ficou conhecida a sua querela com modernistas por causa do artigo "A propósito da exposição Malfatti". Ali critica a mostra de pintura moderna da artista, que caracterizava de não nacional.

 Livros de Monteiro Lobato

Literatura Infantil 

1920 - A menina do narizinho arrebitado
1921 - Fábulas de Narizinho 
1921 - Narizinho arrebitado 
1921 - O Saci 
1922 - O marquês de Rabicó
1922 - Fábulas 
1924 - A caçada da onça 
1924 - Jeca Tatuzinho 
1924 - O noivado de Narizinho 
1927 - As aventuras de Hans Staden 
1928 - Aventuras do príncipe 
1928 - O Gato Félix 
1928 - A cara de coruja 
1929 - O irmão de Pinóquio
1929 - O circo de escavalinho 
1930 - Peter Pan 
1930 - A pena de papagaio 
1931 - Reinações de Narizinho 
1931 - O pó de pirlimpimpim 
1932 - Viagem ao céu 
1933 - Caçadas de Pedrinho 
1933 - Novas reinações de Narizinho 
1933 - História do mundo para as crianças 
1934 - Emília no país da gramática 
1935 - Aritmética da Emília 
1935 - Geografia de Dona Benta 
1935 - História das invenções 
1936 - Dom Quixote das crianças 
1936 - Memórias da Emília 
1937 - Serões de Dona Benta 
1937 - O poço do Visconde 
1937 - Histórias de Tia Nastácia 
1938 - O museu da Emília 
1939 - O Picapau Amarelo 
1939 - O minotauro 
1941 - A reforma da natureza 
1942 - A chave do tamanho 
1944 - Os doze trabalhos de Hércules 
1947 - Histórias diversas 

Outras obras - temática adulta

O Saci Pererê: resultado de um inquérito (1918) 
Urupês (1918) 
Problema vital (1918) 
Cidades mortas (1919) 
Idéias de Jeca Tatu (1919) 
Negrinha (1920) 
A onda verde (1921) 
O macaco que se fez homem (1923) 
Mundo da lua (1923) 
Contos escolhidos (1923) 
O garimpeiro do Rio das Garças (1924) 
O choque (1926) 
Mr. Slang e o Brasil (1927) 
Ferro (1931) 
América (1932) 
Na antevéspera (1933) 
Contos leves (1935) 
O escândalo do petróleo (1936) 
Contos pesados (1940) 
O espanto das gentes (1941) 
Urupês, outros contos e coisas (1943) 
A barca de Gleyre (1944) 
Zé Brasil (1947) 
Prefácios e entrevistas (1947) 
Literatura do minarete (1948) 
Conferências, artigos e crônicas (1948) 
Cartas escolhidas (1948) 
Críticas e Outras notas (1948) 
Cartas de amor (1948) 

fontes: www.graudez.com.br

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Pablo Picasso vida e obras


Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, nasceu em Málaga em 25 de outubro de 1881 e faleceu em Mougins em 8 de Abril de 1973, foi um pintor, escultor e desenhista espanhol, tendo também desenvolvido a poesia.

Foi reconhecidamente um dos mestres da arte do século XX. É considerado um dos artistas mais famosos e versáteis de todo o mundo, tendo criado milhares de trabalhos, não somente pinturas, mas também esculturas e cerâmica, usando, enfim, todos os tipos de materiais.

Ele também é conhecido como sendo o co-fundador do Cubismo, junto com Georges Braque.

Na infância, reproduzia episódios de touradas, tema de sua primeira obra – O Toureiro -, uma pintura a óleo sobre madeira, executada quando o artista tinha oito anos. Mais tarde, inclusive, criou outra tela semelhante – A morte da mulher destacada e fútil, símbolo de sua relação com as mulheres. Aliás, na história de Picasso, seu envolvimento com as mulheres e sua produção artística estão intrinsecamente ligados, e a cada novo relacionamento ele começa a trilhar uma vereda artística renovada.
Sua galeria de criações artísticas atinge o nível de milhares de obras, e ele é um dos mais renomados artistas em todo o planeta. Picasso chegou a Paris em outubro de 1900, cidade que ele imediatamente adotou como seu novo lar, o núcleo de toda produção da vanguarda artístico-cultural. A princípio, ele seguiu caminhos convencionais, transitando da Fase Azul (1901-05), caracteristicamente melancólica, na qual ele aborda a cegueira, a pobreza, a alienação e o desespero, para a alegre e sensível Fase Rosa (1905), quando se apaixona por Fernande Olivier.

Picasso trabalhava exaustivamente durante a noite, até o dia amanhecer. Mas não lhe faltou tempo para criar um grupo de amigos famosos nos bairros parisienses de Montmartre e Montparnasse – André Breton, Guillaume Apollinaire e a escritora Gertrude Stein. Apesar do sucesso da Fase Rosa, em 1907 ele decide abandonar este estilo, atraído pelas esculturas da Península Ibérica e da África, é quando ele pinta Les Demoiselles d’Avignon, trabalho pioneiro da arte moderna. Sua obra passa então a sofrer intensa influência das artes grega, ibérica e africana, constituindo o protocubismo, movimento que antecedeu o cubismo. Seu famoso retrato da amiga Gertrude Stein expressa uma face tratada em forma de máscara.
Versátil demais para se fixar em uma única forma, Picasso não chegou a produzir uma arte essencialmente abstrata, pois estava sempre à frente de seus contemporâneos, que reagiram com perplexidade quando o artista retomou seu estilo mais tradicional e logo depois, no princípio da década de 20, optou por um caminho neoclássico, justamente quando o pintor, recém-casado com a bailarina Olga Koklova, modificara seu modo de vida, agora abusivamente afortunado e convencional, embora extremamente tedioso para Picasso.



Pablo Picasso morreu em 8 de Abril de 1973 em Mougins, França, enquanto ele e sua esposa Jacqueline entretinham os amigos para um jantar. Suas últimas palavras foram:

"Beba-me, beba à minha saúde,
você sabe que eu não posso beber mais nada."

Ele foi sepultado no castelo de Vauvenargues, perto de Aix-en-Provence, uma propriedade que havia adquirido em 1958 e ocupados com Jacqueline entre 1959 e 1962. Jacqueline Roque impediu Claude e Paloma de assistir ao funeral. Devastada e só depois da morte de Picasso, Jacqueline Roque tirou sua própria vida com um tiro em 1986 quando ela tinha 60 anos.

Obra e períodos

A obra de Picasso é muitas vezes classificada em períodos: Azul (1901–1904), Rosa (1905–1907), Africano (1908–1909), Cubismo Analítico (1909–1912) e Cubismo Sintético (1912–1919).
Antes de 1901
Seus primeiros trabalhos estão no Museu Picasso em Barcelona. Principais obras do período:
  • A Primeira Comunhão (1896), uma grande composição que mostra sua irmã, Lola.
  • Retrato da Tia Pepa
Período Azul
Consiste em obras sombrias em tons de azul e verde azulado, ocasionalmente usando outras cores. Desenhava prostitutas e mendigos e sua influência veio de viagens pela Espanha e do suicídio de seu amigo Carlos Casagemas. Ele pintou vários retratos de seu amigo, culminando com a pintura obscuramente alegórica de La Vie. O mesmo tom está na água-forte The Frugal Repast, que mostra um cego e uma mulher perspicaz, ambos emagrecidos, sentados perto de uma mesa vazia. A cegueira é um tema recorrente no período e está também em The Blindman's Meal e no retrato Celestina. Outros temas frequentes são artistas, acrobatas e arlequins. O arlequim se tornou um símbolo pessoal para Picasso.
Período Rosa
O Período Rosa (1905–1907) é caracterizado por um estilo mais alegre com as cores rosa e laranja, e novamente com muitos arlequins. Muitas das pinturas são influenciadas por Fernande Olivier, sua modelo e seu amor na época.
Período Africano
O Período Africano de Picasso (1907–1909) começou com duas figuras inspiradas na África em seu quadro Les Demoiselles d'Avignon. Ideias deste período levaram ao posterior Cubismo.
Cubismo analítico
É um estilo de pintura (1909–1912) que Picasso desenvolveu com Braque usando cores marrons monocromáticas. Eles pegaram objetos e os analisaram em suas formas. A pinturas de Picasso e Braque eram muito semelhantes nesse período.
Cubismo sintético
É um desenvolvimento posterior (1912–1919) do Cubismo no qual fragmentos de papel (papel de parede ou jornais) eram colados em composições, marcado o primeiro uso da colagem nas artes plásticas.
Classicismo e surrealismo
No período seguinte ao caos da Primeira Guerra Mundial, Picasso produziu obras em um estilo neoclássico. Este "retorno à ordem" é evidente no trabalho de vários artistas europeus na década de 20, incluindo Derain, Giorgio de Chirico, e os artistas do New Objectivity Movement. As pinturas e textos de Picasso deste período frequentemente citam o trabalho de Ingres.
Durante os anos 30, o minotauro substituiu o arlequim como motivação que ele usou em seu trabalho. Seu uso do minotauro veio parcialmente de seu contato com os surrealistas, que normalmente o usavam como símbolo, e aparece em Guernica.
Possivelmente o trabalho mais importante de Picasso é sua visão do bombardeio alemão em Guernica, Espanha — Guernica. Esta pintura representa para muitos a brutalidade e desesperança da guerra. Guernica esteve em exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York por vários anos. Em 1981, Guernica voltou para a Espanha e foi exibida no Casón del Buen Retiro. Em 1992, a pintura ficou em exposição no Museu de Reina Sofia em Madri quando ele abriu.


A poesia

Praticamente desconhecido do público é o fato de que Picasso escreveu poesia. Alguns de seus poemas foram recolhidos em antologias de poemas surrealistas.
Em 1961, na Espanha, foi publicado um livro (Trozo de Piel) contendo alguns poemas de Picasso, descobertos pelo Prêmio Nobel da Literatura Camilo José Cela. Considera-se que estes poemas têm algo de expressionistas.
Uma edição completa das suas obras poéticas foi publicada pela editora Gallimard em 1979, na França. Na obra póstuma, nomeada "Picasso. Écrits", Michael Leiris, poeta surrealista amigo de Picasso, pertencente ao grupo de Surrealistas para quem o artista espanhol costumava ler seus poemas, aponta para o Picasso poeta que dá livre curso ao inconsciente, representando "não coisas da ordem do que se passa realmente, mas coisas que lhe passam pela cabeça. Por volta de 1935, o pintor realmente estava entusiasmado com a escrita, praticando uma poesia próxima do Surrealismo.
Em 2006, o pesquisador Rafael Inglada, considerado um dos principais estudiosos da vida e obra de Picasso, reuniu 39 poemas escritos pelo artista entre 1894 e 1968, com o título "Textos espanhóis". O título se deve ao fato de que, mesmo quando escritos em francês, os motivos (touros, gastronomia, hábitos e costumes) do autor têm sempre referências predominantente espanholas. Para o pesquisador, é no Picasso poeta que aparece "o Picasso claramente espanhol, andaluz e malaguenho".
Em 2008, foram publicados mais de 100 poemas em prosa do autor, na Espanha, descobertos apenas em 1989. Apresentando a diversidade que caracteriza a sua obra plástica, os textos se aproximam do estilo da colagem picassiana, sem estrutura lógico-formal, compostos de "jogos de palavras, simbolismos e descrições visuais... delirantes e descabeladas".
Algumas obras de Picasso
Auto-retrato, 1899
Absinto (Rapariga no café), 1901
La mort de Casagemas (A morte de Casagemas), 1901
Evocation enterrement de Casagemas) Evocação - O funeral de Casagemas, 1901
Mère et enfant - La Maternité - Mère tenant l'enfant (A Maternidade), 1901
Vieux guitariste aveugle (Velho guitarrista cego), 1903
Des pauvres au bord de la mer (Miseráveis diante do mar), 1903
La vie (A Vida), 1903
Mulher passando a ferro, 1904
"Les Demoiselles d'Avignon" umas das obras mais conhecidas do pintor (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque).
Retrato de Suzanne Bloch, 1904
O ator, 1905
Auto-retrato com capa, 1905
Garçon à la pipe (Rapaz com cachimbo), 1905
Fernanda com um lenço preto, 1905 - 1906
Vasilhas, 1906
Mulher com leque, 1907                                                                       
Jovem nu (Jovem rapaz com braços levantados), 1907
Les Demoiselles d'Avignon, 1907
Banho, 1908
Três Mulheres, 1908
Composição com crânio, 1908
Garrafa, jarra e frutas, Verão de 1909
Vaso sobre a mesa, 1914
Mulher loira, Dezembro de 1931
Minotauro, bebedor e mulheres, 1933
Guernica, 1937
Dora Maar au chat, 1941
O tomateiro, 7 de Agosto de 1944
Mulher sentada num cadeirão, 12 de Dezembro de 1960
Lagosta e gato, 11 de Janeiro de 1965
Arlequim com baton, 12 de Dezembro de 1969
Busto de mulher, 27 de Junho de 1971
Nude, Green Leaves and Bust
"Les Demoiselles d'Avignon" umas das obras mais conhecidas do pintor (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque).

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

José Saramago vida e obras


Biografia e principais obras de José Saramago



José de Sousa Saramago (1922 - 2010) é um escritor, roteirista, jornalista, dramaturgo e poeta português galardoado com o Nobel da Literatura em 1988. Também ganhou o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa.

Saramago é conhecido por utilizar frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional. Os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões nos seus livros: este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento. Muitas das suas frases (i.e. orações) ocupam mais de uma página, usando vírgulas onde a maioria dos escritores usaria pontos finais. Da mesma forma, muitos dos seus parágrafos ocupariam capítulos inteiros de outros autores. Apesar disso o seu estilo não torna a leitura mais difícil, os seus leitores habituam-se facilmente ao seu ritmo próprio.

Nasceu na aldeia de Azinhaga, concelho de Golegã, no dia 16 de Novembro de 1922, embora o registo oficial mencione o dia 18.

Publicou o seu primeiro livro, o romance \"Terra do Pecado\", em 1947, tendo estado depois sem publicar até 1966.

Entre os livros de maior destaque estão o Memorial do Convento e o Evangelho Segundo Jesus Cristo.

Principais obras de José Saramago


Poesia 

Os Poemas Possíveis, 1966
Provavelmente Alegria, 1970
O Ano de 1993, 1975

Crônica 

Deste Mundo e do Outro, 1971
A Bagagem do Viajante, 1973
As Opiniões que o DL teve, 1974
Os Apontamentos, 1976

Diário 

Cadernos de Lanzarote I, 1994
Cadernos de Lanzarote II, 1995
Cadernos de Lanzarote III, 1996
Cadernos de Lanzarote IV

Viagem 

Viagem a Portugal, 1981

Teatro 

A Noite, 1979
Que Farei Com Este Livro?, 1980
A Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987
In Nomine Dei, 1993

Conto 

Objecto Quase, 1978
Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido, 1979

Romance 

Manual de Pintura e Caligrafia, 1977
Levantado do Chão, 1980
Memorial do Convento, 1982
O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
A Jangada de Pedra, 1986
História do Cerco de Lisboa, 1989
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
Ensaio sobre a Cegueira, 1995
Terra do Pecado, 1947
Todos os Nomes, 1997.

Trechos de algumas das principais obras de José Saramago


ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA (1995)

(...) O médico perguntou-lhe, Nunca lhe tinha acontecido antes, quero dizer, o mesmo de agora, ou parecido, Nunca, senhor doutor, eu nem sequer uso óculos, E diz-me que foi de repente, Sim, senhor doutor, Como uma luz que se apaga, Mais como uma luz que se acende, Nestes últimos dias tinha sentido alguma diferença na vista, Não, senhor doutor, Há, ou houve, algum caso de cegueira na sua família, Nos parentes que conheci ou de quem ouvi falar, nenhum, Sofre de diabetes, Não, senhor doutor, De sífilis, Não, senhor doutor, De hipertensão arterial ou intracraniana, Da intracraniana não sei, do mais sei que não sofro, lá na empresa fazem-nos inspecções, Deu alguma pancada violenta na cabeça, hoje ou ontem, Não, senhor doutor, Quantos anos tem, Trinta e oito, Bom, vamos lá então observar esses olhos. O cego abriu-os muito, como para facilitar o exame, mas o médico tomou-o por um braço e foi instalá-lo por trás de um aparelho que alguém com imaginação poderia ver como um novo modelo de confessionário, em que os olhos tivessem substituído as palavras, com o confessor a olhar directamente para dentro da alma do pecador, Apoie aqui o queixo, recomendou, mantenha os olhos abertos, não se mexa. A mulher aproximou-se do marido, pôs-lhe a mão no ombro, disse, Verás como tudo se irá resolver. O médico subiu e baixou o sistema binocular do seu lado, fez girar parafusos de passo finíssimo, e principiou o exame. Não encontrou nada na córnea, nada na esclerótica, nada na íris, nada na retina, nada no cristalino, nada na mácula lútea, nada no nervo óptico, nada em parte alguma. Afastou-se do aparelho, esfregou os olhos, depois recomeçou o exame desde o princípio, sem falar, e quando outra vez terminou tinha na cara uma expressão perplexa, Não lhe encontro qualquer lesão, os seus olhos estão perfeitos. A mulher juntou as mãos num gesto de alegria e exclamou, Eu bem te tinha dito, eu bem te tinha dito, tudo se ia resolver. Sem lhe dar atenção, o cego perguntou, Já posso tirar o queixo, senhor doutor, Claro que sim, desculpe, Se os meus olhos estão perfeitos, como diz, então por que estou eu cego, Por enquanto não lhe sei dizer, vamos ter de fazer exames mais minuciosos, análises, ecografia, encefalograma, Acha que tem alguma coisa a ver com o cérebro, É uma possibilidade, mas não creio, No entanto o senhor doutor diz que não encontra nada de mau nos meus olhos, Assim é, Não percebo, O que quero dizer é que se o senhor está de facto cego, a sua cegueira, neste momento, é inexplicável, Duvida que eu esteja cego, Que ideia, o problema está na raridade do caso, pessoalmente, em toda a minha vida de médico, nunca me apareceu nada assim, e atrevo-me mesmo a dizer que em toda a história da oftalmologia, Acha que tenho cura, Em princípio, porque não lhe encontro lesões de qualquer tipo nem malformações congé-nitas, a minha resposta deveria ser afirmativa, Mas pelos vistos não o é, Só por cautela, só porque não quero dar-lhe esperanças que depois venham a mostrar-se sem fundamento, Compreendo, Pois é, E deverei seguir algum tratamento, tomar algum remédio, Por enquanto não lhe receitarei nada, seria estar a receitar às cegas, Aí está uma expressão apropriada, observou o cego. O médico fez que não ouvira, afastou-se do banco giratório em que se tinha sentado para a observação, e, mesmo de pé, escreveu numa folha de receita os exames e análises que considerava necessários. Entregou o papel à mulher, Aqui tem, minha senhora, volte cá com o seu marido quando tiver os resultados, se entretanto houver alguma modificação no estado dele, telefone-me, A consulta, senhor doutor, Paga à empregada da recepção. Acompanhou-os à porta, balbuciou uma frase de confiança, do género Vamos a ver, vamos a ver, é preciso não desesperar, e quando se encontrou de novo só entrou no pequeno quarto de banho anexo e ficou a olhar-se no espelho durante um longo minuto, Que será isto, murmurou. Depois regressou ao gabinete, chamou a empregada, Mande entrar o seguinte. Nessa noite o cego sonhou que estava cego."

'Ensaio sobre a cegueira', de José Saramago.


O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO (1991)

"(...) Ora, este José de Arimateia é aquele bondoso e abastado homem que ofereceu os préstimos de um túmulo seu para nele ser depositado o corpo principal, mas a generosidade não lhe servirá de muito na hora das santificações, sequer das beatificações, pois não tem, a envolver-lhe a cabeça, mais do que o turbante com que sai à rua todos os dias, ao contrário desta mulher que aqui vemos em plano próximo, de cabelos soltos sobre o dorso curvo e dobrado, mas toucada com a glória suprema duma auréola, no seu caso recortada como um bordado doméstico. De certeza que a mulher ajoelhada se chama Maria, pois de antemão sabíamos que todas quantas aqui vieram juntar-se usam esse nome, apenas uma delas, por ser ademais Madalena, se distingue onomasticamente das outras, ora, qualquer observador, se conhecedor bastante dos factos elementares da vida, jurará, à primeira vista, que a mencionada Madalena é esta precisamente, porquanto só uma pessoa como ela, de dissoluto passado, teria ousado apresentar-se, na hora trágica, com um decote tão aberto, e um corpete de tal maneira justo que lhe faz subir e altear a redondez dos seios, razão por que, inevitavelmente, está atraindo e retendo a mirada sôfrega dos homens que passam, com grave dano das almas, assim arrastadas à perdição pelo infame corpo. É, porém, de compungida tristeza a expressão do seu rosto, e o abandono do corpo não exprime senão a dor de uma alma, é certo que escondida por carnes tentadoras, mas que é nosso dever ter em conta, falamos da alma, claro está, esta mulher poderia até estar inteiramente nua, se em tal preparo tivessem escolhido representá-la, que ainda assim haveríamos de demonstrar-lhe respeito e homenagem. Maria Madalena, se ela é, ampara, e parece que vai beijar, num gesto de compaixão intraduzível por palavras, a mão doutra mulher, esta sim, caída por terra, como desamparada de forças ou ferida de morte. O seu nome também é Maria, segunda na ordem de apresentação, mas, sem dúvida, primeiríssima na importância, se algo significa o lugar central que ocupa na região inferior da composição. Tirando o rosto lacrimoso e as mãos desfalecidas, nada se lhe alcança a ver do corpo, coberto pelas pregas múltiplas do manto e da túnica, cingida na cintura por um cordão cuja aspereza se adivinha (...)"

'O Evangelho segundo Jesus Cristo', de José Saramago.

A VIAGEM DO ELEFANTE (2008)

(...) O presente que demos ao primo maximiliano, quando do seu casamento, há quatro anos, sempre me pareceu indigno da sua linhagem e merecimentos, e agora que o temos aqui tão perto, em Valladolid, como regente de espanha, por assim dizer à mão de semear, gostaria de lhe oferecer algo mais valioso, algo que desse nas vistas, a vós que vos parece, senhora, Uma custódia estaria bem, senhor, tenho observado que, talvez pela virtude conjunta do seu valor material com o seu significado espiritual, uma custódia é sempre bem acolhida pelo obsequiado, A nossa santa igreja não apreciaria tal liberalidade, ainda há--de ter presentes em sua infalível memória as confessas simpatias do primo maximiliano pela reforma dos protestantes luteranos, luteranos ou calvinistas, nunca soube ao certo, Vade retro, satanás, nem em tal tinha pensado, exclamou a rainha, benzendo-se, amanhã terei de me confessar à primeira hora, Porquê amanhã em particular, senhora, se é vosso costume confessar-vos todos os dias, perguntou o rei, Pela nefanda ideia que o inimigo me pôs nas cordas da voz, olhai que ainda sinto a garganta queimada como se por ela tivesse roçado o bafo do inferno. Habituado aos exageros sensoriais da rainha, o rei encolheu os ombros e regressou à espinhosa tarefa de descobrir um presente capaz de satisfazer o arquiduque maximiliano de áustria. A rainha bisbilhava uma oração, principiara já outra, quando de repente se interrompeu e quase gritou, Temos o salomão, Quê, perguntou o rei, perplexo, sem perceber a intempestiva invocação ao rei de judá, Sim, senhor, salomão, o elefante, E para que quero eu aqui o elefante, perguntou o rei já algo abespinhado, Para o presente, senhor, para o presente de casamento, respondeu a rainha, pondo-se de pé, eufórica, excitadíssima, Não é presente de casamento, Dá o mesmo. O rei acenou com a cabeça lentamente três vezes seguidas, fez uma pausa e acenou outras três vezes, ao fim das quais admitiu, Parece-me uma ideia interessante, É mais do que interessante, é uma ideia boa, é uma ideia excelente, retrucou a rainha com um gesto de impaciência, quase de insubordinação, que não foi capaz de reprimir, há mais de dois anos que esse animal veio da índia, e desde então não tem feito outra coisa que não seja comer e dormir, a dorna da água sempre cheia, forragens aos montões, é como se estivéssemos a sustentar uma besta à argola, e sem esperança de pago (...)"

'A viagem do elefante', de José Saramago.


A JANGADA DE PEDRA (1988)

"(...) Em Paris riram-se muito das súplicas do maire, que parecia estar a telefonar de um canil à hora de ir servir-se o almoço dos cães, e só a instantes rogos de um deputado da maioria, na comuna nascido e criado, portanto conhecedor das lendas e narrativas locais, é que acabaram por ser despachados para o sul dois veterinários qualificados do Deuxième Bureau, com a especial missão de estudarem o fenómeno insólito e apresentarem relatório e propostas de acção. Entretanto, desesperados, no limiar da surdez, os habitantes tinham espalhado pelas ruas e praças da aprazível estância balnear, agora estação infernal, dúzias de bolos de carne envenenados, método de simplicidade suprema, cuja eficácia tem sido confirmada pela experiência em todos os tempos e latitudes. Por junto, não morreu mais que um cão, mas a lição foi logo aprendida pelos sobreviventes, que, em um instante, latindo ladrando e uivando, se sumiram nos campos arredor, onde, sem motivo que se percebesse, em poucos minutos se calaram. Quando os veterinários enfim chegaram foi-lhes apresentado o triste Médor, frio, inchado, tão diferente do feliz animal que acompanhava a dona às compras, e que, por ser já velho, gostava de dormir ao sol, sem cuidados. Porém, como a justiça ainda não abandonou por completo este mundo, decidiu Deus, poeticamente, que Médor morresse do bolo preparado pela dona bem-amada, a qual, bom é que se saiba, tinha no pensamento uma certa cadela da vizinhança que não lhe saía do jardim. O mais velho dos veterinários, diante do fúnebre despojo, disse, Vamos autopsiar, e realmente não valia a pena, porquanto qualquer habitante de Cerbère poderia, se o quisesse, testemunhar a causa mortis, mas o fito oculto da Faculdade, como na gíria do serviço secreto lhe chamavam, era proceder, disfarçadamente, ao exame das cordas vocais de um bicho que, entre a mudez por morte agora definitiva e o silêncio que parecera ser para toda a vida, tivera afinal umas horas de fala e pudera ser igual ao comum dos cães. (...)"

'Jangada de pedra', de José Saramago.


CAIM (2009)

"(...) Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de mugidos e rugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer de possível certificação canónica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e húmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela, ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado na casca de uma árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa no género amo-te, eva. (...)"

'Caim', de José Saramago.







terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Casimiro de Abreu vida e obras


BIOGRAFIA
Casimiro de abreu (1837-1860), poeta romântico brasileiro. Dono de rimas cantantes, ao gosto do público, Casimiro de Abreu publicou apenas um livro, As Primaveras (1859). Filho de um rico comerciante, Casimiro de Abreu nasceu em Barra de São João (Rio de Janeiro) e cresceu no Rio, então capital do Império e centro cultural do país. Entre 1853 e 1857, estudou em Portugal. A vocação literária, porém, suplantou a vida acadêmica. Em Lisboa, iniciou-se como poeta e dramaturgo. A peça Camões e Jaú estreou no teatro D. Fernando e, nela, o autor proclama sua brasilidade, as saudades dos trópicos e refere-se a Portugal como "velho e caduco". De volta ao Brasil, dedicou-se à atividade comercial, com o apoio paterno. Mas definia este trabalho como uma "vida prosaica…que enfraquece e mata a inteligência". Morreu aos 21 anos, de tuberculose, em Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro. Seu poema mais famoso é Meus Oito Anos. Da segunda geração romântica brasileira, Casimiro de Abreu cultivava um lirismo de expressão simples e ingênua. Seus temas dominantes foram o amor e a saudade. Embora criticado por deslizes de linguagem e falta de embasamento filosófico, Casimiro de Abreu é admirado, justamente, pela simplicidade. Alguns versos acabaram se incorporando à linguagem corrente como, por exemplo, simpatia é quase amor, hoje nome de um famoso bloco do carnaval carioca.

É pequena a obra poética de Casimiro de Abreu. Porém, deixou-nos de forma marcante, a poesia da saudade: "Canção do exílio" ("Meu lar") em que partia da aceitação premonitória, "Se eu tenho de morrer na flor dos anos", para a formulação de um desejo que se realizou plenamente: "Quero morrer cercado dos perfumes / Dum clima tropical.”. Meus Oito Anos, Minha Terra - poemas escritos em Portugal, onde adquiriu sua educação literária.

MEUS OITO ANOS

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!


MINHA'ALMA É TRISTE

Minh'alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o alvor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.
E, como a rôla que perdeu o esposo,
Minh'alma chora as ilusões perdidas,
E no seu livro de fanado gozo
Relê as folhas que já foram lidas.
E como notas de chorosa endeixa
Seu pobre canto com a dor desmaia,
E seus gemidos são iguais à queixa
Que a vaga solta quando beija a praia.
Como a criança que banhada em prantos
Procura o brinco que levou-lhe o rio,
Minha'alma quer ressuscitar nos cantos
Um só dos lírios que murchou o estio.
Dizem que há, gozos nas mundanas galas,
Mas eu não sei em que o prazer consiste.
— Ou só no campo, ou no rumor das salas,
Não sei porque — mas a minh'alma é triste!
II Minh'alma é triste como a voz do sino
Carpindo o morto sobre a laje fria;
E doce e grave qual no templo um hino,
Ou como a prece ao desmaiar do dia.
Se passa um bote com as velas soltas,
Minh'ahna o segue n'amplidão dos mares;
E longas horas acompanha as voltas
Das andorinhas recortando os ares.
Às vezes, louca, num cismar perdida,
Minh'alma triste vai vagando à toa,
Bem como a folha que do sul batida
Bóia nas águas de gentil lagoa!
E como a rola que em sentida queixa
O bosque acorda desde o albor da aurora,
Minha'ahna em notas de chorosa endeixa
Lamenta os sonhos que já tive outrora.
Dizem que há gozos no correr dos anos!...
Só eu não sei em que o prazer consiste.
— Pobre ludíbrio de cruéis enganos,
Perdi os risos — a minh'alma é triste!
III Minh'alma é triste como a flor que morre
Pendida à beira do riacho ingrato;
Nem beijos dá-lhe a viração que corre,
Nem doce canto o sabiá do mato!
E como a flor que solitária pende
Sem ter carícias no voar da brisa,
Minh'alma murcha, mas ninguém entende
Que a pobrezinha só de amor precisa!
Amei outrora com amor bem santo
Os negros olhos de gentil donzela,
Mas dessa fronte de sublime encanto
Outro tirou a virginal capela.
Oh! quantas vezes a prendi nos braços!
Que o diga e fale o laranjal florido!
Se mão de ferro espedaçou dois laços
Ambos choramos mas num só gemido!
Dizem que há gozos no viver d'amores,
Só eu não sei em que o prazer consiste!
— Eu vejo o mundo na estação das flores
Tudo sorri — mas a minh'alma é triste!
IV Minh'alma é triste como o grito agudo
Das arapongas no sertão deserto;
E como o nauta sobre o mar sanhudo,
Longe da praia que julgou tão perto!
A mocidade no sonhar florida
Em mim foi beijo de lasciva virgem:
— Pulava o sangue e me fervia a vida,
Ardendo a fronte em bacanal vertigem.
De tanto fogo tinha a mente cheia!...
No afã da glória me atirei com ânsia...
E, perto ou longe, quis beijar a s'reia
Que em doce canto me atraiu na infância.
Ai! loucos sonhos de mancebo ardente!
Esp'ranças altas... Ei-las já tão rasas!...
— Pombo selvagem, quis voar contente...
Feriu-me a bala no bater das asas!
Dizem que há gozos no correr da vida...
Só eu não sei em que o prazer consiste!
— No amor, na glória, na mundana lida,
Foram-se as flores — a minh'alma é triste!



Aluisio Azevedo vida e obras


Romancista e diplomata, nasceu em São Luís, MA, em 14 de abril de 1857, e faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913. É o fundador da Cadeira n. 4 da Academia Brasileira de Letras.
Era filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo e de d. Emília Amália Pinto de Magalhães e irmão mais moço do comediógrafo Artur Azevedo. Sua mãe havia casado, aos 17 anos, com um rico e ríspido comerciante português. O temperamento brutal do marido determinou o fim do casamento. Emília refugiou-se em casa de amigos, até conhecer o vice-cônsul de Portugal, o jovem viúvo David. Os dois passaram a viver juntos, sem contraírem segundas núpcias, o que à época foi considerado um escândalo na sociedade maranhense.
Da infância à adolescência, Aluísio estudou em São Luís e trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Desde cedo revelou grande interesse pelo desenho e pela pintura, o que certamente o auxiliou na aquisição da técnica que empregará mais tarde ao caracterizar os personagens de seus romances. Em 1876, embarcou para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o irmão mais velho, Artur. Matriculou-se na Imperial Academia de Belas Artes, hoje Escola Nacional de Belas Artes. Para manter-se, fazia caricaturas para os jornais da época, como O Figaro, O Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada. A partir desses "bonecos" que conservava sobre a mesa de trabalho, escrevia cenas de romances.
A morte do pai, em 1878, obrigou-o a voltar a São Luís, para tomar conta da família. Ali começou a carreira de escritor, com a publicação, em 1879, do romance Uma lágrima de mulher, típico dramalhão romântico. Ajuda a lançar e colabora com o jornal anticlerical O Pensador, que defendia a abolição da escravatura, enquanto os padres mostravam-se contrários a ela. Em 1881, Aluísio lança O mulato, romance que causou escândalo entre a sociedade maranhense, não só pela crua linguagem naturalista, mas sobretudo pelo assunto de que tratava: o preconceito racial. O romance teve grande sucesso, foi bem recebido na Corte como exemplo de Naturalismo, e Aluísio pôde fazer o caminho de volta para o Rio de Janeiro, embarcando em 7 de setembro de 1881, decidido a ganhar a vida como escritor.
Quase todos os jornais da época tinham folhetins, e foi num deles que Aluísio passou a publicar seus romances. A princípio, eram obras menores, escritas apenas para garantir a sobrevivência. Depois, surgiu nova preocupação no universo de Aluísio: a observação e análise dos agrupamentos humanos, a degradação das casas de pensão e sua exploração pelo imigrante, principalmente o português. Dessa preocupação resultariam duas de suas melhores obras: Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). De 1882 a 1895 escreveu sem interrupção romances, contos e crônicas, além de peças de teatro em colaboração com Artur de Azevedo e Emílio Rouède.
Em 1895 encerrou a carreira de romancista e ingressou na diplomacia. O primeiro posto foi em Vigo, na Espanha. Depois serviu no Japão, na Argentina, na Inglaterra e na Itália. Passara a viver em companhia de D. Pastora Luquez, de nacionalidade argentina, junto com os dois filhos, Pastor e Zulema, que Aluísio adotou. Em 1910, foi nomeado cônsul de 1a classe, sendo removido para Assunção. Depois foi para Buenos Aires, seu último posto. Ali faleceu, aos 56 anos. Foi enterrado naquela cidade. Seis anos depois, por uma iniciativa de Coelho Neto, a urna funerária de Aluísio Azevedo chegou a São Luís, onde o escritor foi sepultado definitivamente. Obras: Uma lágrima de mulher, romance de estréia (1880); O mulato, romance (1881); Mistério da Tijuca, romance (1882; reeditado: Girândola de amores); Memórias de um condenado (1882; reeditado: A condessa Vésper); Casa de pensão, romance (1884); Filomena Borges, romance (publicado em folhetins na Gazeta de Notícias, 1884); O homem, romance (1887); O coruja, romance (1890); O cortiço, romance (1890); Demônios, contos (1895); A mortalha de Alzira, romance (1894); Livro de uma sogra, romance (1895).


Crítico impiedoso da sociedade brasileira e de suas instituições, o romancista Aluísio Azevedo abandonou as tendências românticas em que se formara para tornar-se, influenciado por Eça de Queirós e Émile Zola, o criador do naturalismo no Brasil. Preocupado com a realidade cotidiana, seus temas prediletos foram o anticlericalismo, a luta contra o preconceito de cor, o adultério, os vícios, o povo humilde. Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís MA em 14 de abril de 1857. A chamado do irmão, o teatrólogo Artur Azevedo, viajou para o Rio de Janeiro aos 17 anos e começou a estudar na Academia Imperial de Belas-Artes. Logo passou a colaborar, com caricaturas e poesias, em jornais e revistas. A partir da publicação de seu primeiro romance, Uma lágrima de mulher (1880), exageradamente sentimental e em estilo romântico, viveu durante 15 anos do que ganhava como escritor. Ao ingressar por concurso na carreira diplomática, em 1895, encerrou a literária. A serviço do Brasil, esteve na Espanha, Japão, Uruguai, Inglaterra, Itália, Paraguai e Argentina. Um ano depois de seu pálido romance de estréia saiu O mulato (1881), em outro estilo. O livro foi publicado no auge da campanha abolicionista e provocou enorme escândalo. O autor tentava analisar a posição do mestiço na sociedade maranhense de seu tempo e atacou o preconceito racial. Foi esse o início de sua fase produtiva: até 1895 escreveu ao todo 19 trabalhos, entre romances e peças teatrais. Continuou colaborando em jornais e revistas, com caricaturas, contos, críticas e novelas. Ele próprio tentou lançar em São Luís um periódico anticlerical intitulado
O Pensador, no mesmo ano de publicação de O mulato. A reação hostil da sociedade provinciana e do clero fez com que voltasse definitivamente para o Rio de Janeiro. Além de O mulato, os romances que o consagraram perante a crítica e o público foram Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890), considerado sua obra-prima. No primeiro, inspirado num caso da crônica policial do Rio, descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital. Em O cortiço narra, em linguagem vigorosa, a vida miserável dos moradores de duas habitações coletivas. Entre seus demais romances estão: A condessa de Vésper (1902), publicado primeiro em rodapé da Gazetinha, sob o título Memórias de um condenado (1882); Girândola de amores (1900), publicado primeiro em folhetim na Folha Nova (1882), sob o título de Mistério da Tijuca; Filomena Borges (1884); O homem (1887); O Coruja (1895), publicado primeiro em rodapé de O País (1889); O esqueleto (mistérios da casa de Bragança) (1890), publicado sob o pseudônimo de Victor Leal; A mortalha de Alzira (1893); O livro de uma sogra (1895), além dos contos de Demônios (1890). Membro fundador da Academia Brasileira de Letras (cadeira nº 4), Aluísio Azevedo morreu em 21 de janeiro de 1913 em Buenos Aires, Argentina, onde ocupava o posto de vice-cônsul do Brasil.


Obras Publicadas.......: 1880 - Uma lágrima de mulher

1881 - O mulato (DESTAQUE)
1882 - Memórias de um condenado
1884 - Filomena Borges
1887 - O homem
???? - O esqueleto
1890 - O cortiço (DESTAQUE)
1894 - A mortalha de Alzira
1894 - Casa de pensão (DESTAQUE)
1895 - Livro de uma sogra
1900 - A girândola de amores/O mistério de Tijuca
1901 - Condessa Vesper